Ensaio Filosófico – DA SÉRIE: ENSAIOS QUE NOS LEVAM A PENSAR (Capítulo 20 da Obra “Os três Insights”, verão de 1999) -(UMA REVISITAÇÃO OU UM REAVIVAMENTO DA MEMÓRIA) Autor: Edimilson Santos Silva Movér


 



 

Revisitando as diversas etapas da evolução do homem citadas atrás, notaremos que realmente o homem evoluiu. Comparemos o comportamento do homem de dois mil anos atrás com o do homem atual, e veremos que o homem melhorou; as guerras daquele tempo eram guerras de extermínio! Ninguém reclamava; era o costume, era o “modus vivendi”. Embora nas guerras atuais ainda haja muita barbárie, a grita dos povos é imensa e há leis internacionais a que todas as nações são obrigadas a cumprir, embora nem sempre as cumpram! Na realidade, os povos atuais não concordam com as guerras; os governos é que as provocam. Vejam o exemplo atualíssimo da guerra entre os Estados Unidos e o Iraque. O que se observa e se constata é que a grande maioria dos governos do mundo é contra a guerra e a totalidade da humanidade é completa e absolutamente contra. Querem uma outra prova de que o homem evoluiu? Então me respondam! Qual a civilização que instituiu a Greenpeace, as sociedades de proteção aos animais em geral, as de proteção ao meio ambiente, as sociedades de proteção à infância, aos menores abandonados, às mulheres, à velhice, aos deficientes, aos pobres, as sociedades de apoio aos sem teto, aos sem terra, de proteção aos direitos humanos? Agora eu respondo foi a nossa e não as civilizações anteriores. Esta constatação é ou não é uma prova de nossa evolução espiritual? Então me dirão! O homem de dois mil anos atrás não agredia o meio ambiente! Ora, ninguém cospe no prato que come! Já neste caso, o problema é de número; na época de Jesus Cristo, a humanidade não passava de trezentos milhões de seres; atualmente, já somos seis bilhões e trezentos milhões, e aí então a pressão demográfica exercida sobre o meio ambiente é formidável, e não há meio ambiente que agüente ou suporte tal pressão. Já expus anteriormente esta minha opinião! Se alcançarmos o triplo de nossa população atual, as reservas energéticas do planeta serão exauridas em poucas décadas e então teremos um colapso e uma reviravolta no existir do homem sobre o planeta, ou, no mínimo, voltaremos à barbárie. Após os vôos espaciais, a humanidade passou a ter consciência planetária, atingindo, assim, mais um degrau da evolução espiritual, um pequeno degrau. Com os vôos espaciais, até mesmo o homem comum tem visão planetária do seu habitat. Num tempo pretérito aos vôos espaciais, somente alguns iluminados tinham esta visão.

 

 

O ENFOQUE QUE BUSCAMOS

 

Conforme anteriormente explicitado, esta obra não é dirigida aos homens de ciência, sendo tão-somente uma singela tentativa de fazer chegar aos leigos em assuntos cosmogônicos uma visão ampliada e, ao mesmo tempo, simplificada do macro universo em que vivemos, tendo como centro os “insights” que dão uma nova visão à forma e à dinâmica de um novo universo, simples ao extremo, racional e crível, dando também uma despretensiosa olhadela no comportamento do animal paradoxal que se auto-intitula “Homo sapiens sapiens”. Obedecendo aos princípios da pirâmide escalonada invertida, só há dois tipos de seres humanos: os “antiquus” e os “novatus”, tendo ambos acesso irrestrito aos bruxedos da ciência, podendo qualquer um chegar a ser um Tomas Alva Edison, um Albert Sabin ou um Dr. Silvana da vida. Assim como; poder atingir qualquer cargo de mando no planeta, de um chefe tribal na Amazônia, até ser presidente da maior nação do planeta. O conhecimento e o poder são direitos “inderrogáveis” do ser humano; todos, indistintamente, têm livre acesso a eles.

 

COMO NOS ENFOCAM

 

Por mais que não queiramos ser explicativos, alguém sempre provoca nossa tendência para dar explicações, e como não há escapatória das críticas, dos que lêem e dos que não lêem o que criticam. Pelo menos esta primeira crítica eu vou responder e aqui vai o elucidário deste julgamento. Antes de este pequeno ensaio ir ao prelo, se é que um dia irá, distribuí algumas versões “beta”, entre algumas pessoas amigas. Alguns, com bastante cultura geral e conhecimentos aprofundados em áreas específicas do saber acadêmico, como física nuclear, geofísica, astronomia, engenharia de cálculo estrutural, medicina, ciência da computação, matemática superior, filosofia, música, filologia, sociologia, teosofia, espiritismo, teologia, poesia, psicologia, psiquiatria, idiotia, “opa! Desta última ninguém escapa”, etc. etc., outros com cultura mediana ou mesmo com pouca cultura, o fiz com a intenção de colher opiniões as mais diversas possíveis, para que, com a análise da opinião deste pequeno, atípico e variado universo de leitores, eu pudesse avaliar o grau de aceitação da obra e, principalmente, a qualidade da sua descrição (na realidade, a obra é somente a descrição de três fatos singulares ocorridos comigo), isto se algum dia por, quaisquer motivos, ela viesse a ser publicada. Morando em Itacaré e tendo um primo morando na Tulha, zona praiana (por sinal, linda) no litoral norte de Ilhéus, aqui na Bahia, dei um exemplar a este primo, para que ele o lesse e opinasse, um exemplar “beta” isto é, sem a revisão final. Este primo deu o seu exemplar para um amigo (dele) para ler; este amigo (dele), com formação acadêmica, isto é, com curso universitário, fez algumas perguntas, tais quais: O autor desta obra é usuário de drogas? É louco? É um lunático? Ou um visionário? Tais perguntas, partindo de uma pessoa com formação acadêmica, que tenha cursado uma universidade, eu não entendo, não dá para entender, mas por ter formação em uma área específica do saber acadêmico, eu entendo, mesmo porque os sonhos dos gatos serão sempre povoados de ratos. Este amigo do meu primo é psiquiatra. Mas convenhamos! Pessoas que tenham um dia cursado uma universidade, por mais desligadas que sejam, têm algum discernimento em áreas como física, geologia, astronomia, história geral, paleontologia, etc. Pelo menos já ouviram falar de Relatividade geral e relatividade restrita, Física, Química, Física quântica, Geometria espacial, euclidiana, etc. Pelo menos um dia viu escritos estes nomes: Anaximandro, Tales, Pitágoras, Aristóteles, Sócrates, Platão, Copérnico, Galileu, Newton, Leibniz, Maxwel, Laplace, Böhr, Werner Heisenberg, Hubble, Hawking, Guth, J.R. Gott, Einstein; com certeza já viu! Restou-me a desconfiança de que ele andara lendo a obra do escritor, e jornalista Aldous Huxley, e deu especial atenção à área do estudo da percepção sensorial do homem, alterada por estímulos outros (As portas da percepção) e, com certeza, não captou a essência da obra; será que leu O macaco e a essência? Ora se leu! Aí me caiu a primeira ficha: a pessoa tinha tomado a descrição dos três “insights” em forma de obra de ficção como uma irrealidade! Assim o fiz para tornar a descrição mais fácil e mais crível. Ele tinha acreditado em tudo que eu tinha imaginado, e escrito como uma forma de descrever o que ocorrera comigo, onde lancei mão da minha criatividade para dar vida ao relato dos três “insights” como um fato que houvera se passado realmente daquela forma comigo! Aí me dei conta de que tinha alcançado o objetivo a que todo contista de ficção almeja, que é de que sua obra fosse tomada como a descrição de um conto do real. Na descrição dos três “insights”, cheguei a ser redundante, dizendo que relatar tudo o que ocorrera e da forma que ocorrera era impossível e “irrelatável” (lembrei-me do ministro do imexível). Assim, sobre tudo no antelóquio, usei a ficção para tornar mais compreensível o que eu tinha que descrever. Desta forma, grato, meu bom primo, e grato, bom amigo (dele). Ou será que este ilustre amigo (dele) não leu todo o ensaio? E terá opinado sobre o que não tomou conhecimento “in totum?”, ou leu e não compreendeu o conteúdo? Em última instância, ainda resta a opção deste humilde “insightista” não ter tido sucesso em sua vã tentativa de se fazer compreendido. Tudo é possível! Tudo é possível! Neste exato momento, caiu-me a ficha maior; agora quem não sabe se se trata de uma ficção, ou se se tratam de fatos reais ocorridos comigo sou eu! Assim, ficam eleitos juízes dessa querela os leitores; eles é que decidirão se realmente é uma obra de ficção, ou se ficcionalmente a obra é fruto de um fato real. O trocadilho é proposital. Cabe ao leitor o julgamento final. Como todo contista de ficção tende a ser meio discípulo de Pirro, será que não deveríamos apoiar Montaigne no seu aforismo dos mestres ineptos? Aqui transcrevo “Ipsis Litteris” o pequeno apotegma de Montaigne, pois em todo conto de mistério sempre há um vilão; parece-me que desta vez os mestres serão os vilões. Como neste conto de mistérios não há mordomos, inescapavelmente, pelo menos desta vez, os mestres serão os vilões. Pobres mestres, pobres mestres!

 

OS ESTUDANTES E OS MESTRES INEPTOS

“Sob um ponto de vista de Montaigne”

Assim, Montaigne começa o seu apotegma…

 

Detesto o sábio que não é sábio por si próprio. “Eurípedes”.

Não basta adquirir sabedoria; é preciso tirar proveito dela. “Cícero”.

Vã é a sabedoria que não é útil ao sábio. “Ênio”.

 

Dionísio caçoava dos astrólogos que cuidavam de saber das desgraças de Ulisses, mas ignoravam as próprias; dos músicos que afinam suas flautas, mas não os seus costumes;

Dos oradores que estudam para discutir a justiça, mas não a praticam, se seus juízos não se tornam mais lúcidos, melhor fora que o estudante gastasse seu tempo a jogar péla, pois ao menos o corpo ele o teria mais ágil. Observai-o de volta após quinze ou dezesseis anos: nada se fará dele; o que trouxe a mais é o grego e o latim, que o fizeram mais tolo e presunçoso do que quando deixou a casa paterna. Devia voltar com o espírito cheio, e voltou balofo; incharam-no e continuou vazio.

Tais mestres, como os sofistas seus parentes próximos a que alude Platão, são de todos os homens os que parecem mais úteis à humanidade. No entanto são os únicos que não somente não melhoram a matéria-prima que se lhes confiou, como fazem o carpinteiro e o pedreiro, mas a estragam e ainda cobram por tê-la estragado.

Cap. XXV–Pedantismo – Montaigne, (1533 –1592).

 

O ESQUECIMENTO

 

A grande verdade é que não somos significantes, individualmente, perante o existir humano. Tentamos e não conseguimos nos eternizar, mesmo na memória da nossa progênie. Pergunte a uma pessoa qualquer qual é o nome de um de seus 32 tetravôs? Simplesmente ela não saberá responder; ninguém sabe. Os nossos tetranetos nunca ouvirão falar de nós; sumiremos, ou nunca faremos parte de suas memórias; deixaremos de existir; esta é uma dura constatação, mas é a realidade. Somente alguns poucos seres serão lembrados, como escritores, artistas, poetas, estadistas, déspotas, cientistas, assassinos, loucos, etc. e não para sempre; com o passar do tempo, digamos um milhão de anos, as informações do passado serão em número tão grande, que somente áreas especializadas de pesquisa terão acesso aos dados de faixas de tempo específicas. Simplesmente ficaremos no olvido. Se por felicidade a humanidade durar todo este tempo, inapelavelmente ficará sem passado. Aí eu me pergunto: para que tanta guerra? Para que tanto orgulho? Para Que tanta ganância? Quanto mais tento conhecer, menos conheço o homem. E muito menos a mim mesmo, pois é impossível conhecer a mim mesmo, sem conhecer o meu semelhante, isto como “homem-humanidade”, pois tentar conhecê-lo ou analisá-lo como indivíduo, a impossibilidade chega ao infinito. O comportamento de um homem isolado é imprevisível, no entanto o comportamento de uma sociedade humana é bastante previsível. A aplicação dos princípios bayesianos no estudo do comportamento humano, em se tratando de grandes massas ou sociedades humanas, torna tudo muito previsível, extremamente previsível. Este remate só contém fatos comuns, e declarações comuns, e do conhecimento de todos; o que fiz foi somente uma rememoração destes fatos, um reavivamento; isto mesmo, um reavivamento da memória. É um paradoxo: quanto mais aprendo, menos sei! Novamente enfrento outra dura constatação: nada sou, agora, sim, mais sei que nada sou. Sou um montão de argolinhas girantes; é só isto que sou. Um nada. Nem um. Sou simplesmente nada. Nada, absolutamente nada. Agora posso contestar físicos e filósofos; o nada existe! Sou eu.

 

Itacaré – Bahia, verão de 1999

Edimilson Santos Silva Movér

Hoje, início de 2012- parece-me que, as argolinha girantes, a que me referia, nada mais seriam que as cósmic strings do espaço Calabi-Yau, na escala da distância de Planck.  Movér