Destaque para time mongoió no Campeonato Baiano 2011- mídia nacional

100_0435Na última quarta-feira (25), o Serrano foi destaque no site do Globo Esporte, o globoesporte.com. O site enfatizou o grande investimento que a diretoria do Rubro-verde vem fazendo no clube.

A grande campanha que o time mongoió realizou no Campeonato Baiano 2011 e os investimentos realizados pelo clube no futebol do sudoeste foi o plano de fundo de uma das matérias de capa do globoesporte.com. Tal feito foi descrito como “surpreendente” e o clube foi comparado com a tribo mongoió, que sempre “mostra resistência às dificuldades”. Craques que foram revelados no clube e o passado glorioso também foram lembrados.

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Confira abaixo a matéria na integra

Brasil Afora: inspirado em uma tribo, Serrano busca seu espaço na Bahia

Clube de Vitória da Conquista mostra resistência às dificuldades tal como os mongoiós e consegue chegar às semifinais do Campeonato Baiano

Por Ian Rosalino

A tribo indígena mongoió habitou a região de Vitória da Conquista (BA), a 527 km de Salvador, no século XVIII, antes da colonização portuguesa. Conhecida pela resistência diante da dominação lusa, a tribo foi dizimada em uma festa organizada pelos portugueses. Os mongoiós foram chamados a festejar suposta trégua, e, depois de consumirem bebida alcoólica, foram cercados por soldados, que mataram quase todos os presentes, inclusive mulheres e crianças. O episódio ficou conhecido como “O Banquete da Morte”. Mas quais semelhanças essa triste história guarda com a alegria espontânea do futebol?

Inspirada na bravura e na resistência dos mongoiós, a diretoria do Serrano Sport Club, de Vitória da Conquista, adotou o índio como mascote e tirou o time de um longo ostracismo. A equipe, fundada em dezembro de 1979 pelo empresário do ramo de confecções Nelivaldo Pereira Sá, é a mais tradicional da cidade. O atual diretor, Kléber Avelino, que em 2008 entrou com o grupo que começou a tentar tirar o clube de má situação financeira, tem relação antiga e curiosamente próspera com o Serrano. Em 1992, ele cursava matemática na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Nos intervalos das aulas, vendia cachorro-quente. Nos fins de semana, os jogos da equipe enchiam o Estádio Lomanto Júnior. Kleber viu ali a oportunidade de faturar mais.

– Um dia, o dono de uma lanchonete comeu o cachorro-quente no estádio. Aí, ele falou: “Poxa, cara, que cachorro-quente gostoso”. Ele comeu de novo e acabou levando para a família. Naquele jogo, eu vendi tanto que acabou o molho. Tive de colocar mais água para render e comprar mais refrigerante no supermercado – disse o diretor, que desde então criou um vínculo emocional com o clube.

O Serrano virou sinônimo de sucesso para Kleber, que toca a equipe atualmente com modestos R$ 118 mil para custear a folha de pagamento. O investimento do time no Campeonato Baiano 2011 foi orçado em R$ 1 milhão, dinheiro gasto por mês pelo Esporte Clube Bahia. O time ainda não tem um centro de treinamento. Por conta disso, a pré-temporada foi feita em Ituaçu, a 165 km de Vitória da Conquista. Durante o estadual, os treinos aconteceram em campos emprestados por empresas da região em cidades vizinhas.

Com essas dificuldades, foi preciso resistência para o time chegar às semifinais do Baianão. É aí que entra o índio mongoió, eleito o mascote da equipe em um concurso realizado durante o campeonato.

– Olhando para o passado de Vitória da Conquista, nós vimos que os índios mongoiós resistiram bravamente, de todas as formas. Então a gente pegou essa questão do mongoió e fez um concurso para escolher o índio, e isso envolveu a comunidade – afirmou Kléber.

Na estreia no estadual, uma vitória surpreendente de virada sobre o Bahia dentro de casa, no Lomanto Júnior. Em seguida, uma sucessão de derrotas e empates fez a torcida depositar mais desconfiança do que esperança na equipe. A média de público durante os jogos do time não superou 3 mil pessoas. O Serrano chegou à segunda fase do Baianão desacreditado, mas superou os times do Feirense e do Camaçari na disputa pela segunda vaga do Grupo 4. No retrospecto, uma campanha modesta: 23 pontos marcados em seis vitórias, cinco empates e nove derrotas. O time de Conquista acabou eliminado pelo Bahia de Feira nas semifinais.

Durante a competição, praticamente todo o elenco foi reformulado: 16 jogadores foram contratados. Depois da derrota por 3 a 2 para o rival Vitória da Conquista na oitava rodada, o técnico Elias Borges deu lugar a Décio de Abreu, conhecido como “Esquerdinha”. Considerado a zebra do campeonato, o time apostou em um elenco jovem. A dupla ofensiva foi formada por um novato e um veterano. Carlos Junior, de 21 anos, teve passagem pelo Atlético-MG, onde foi treinado por Emerson Leão. Além dele, Clayton, experiente atacante com passagem pelo Porto, de Portugal, completou o elenco que chegou às semifinais.

Início com uma seleção…

A história do Serrano começou quando a seleção de Vitória da Conquista fez uma ótima campanha durante os jogos intermunicipais e se tornou campeã do torneio daquele ano.

Por conta da boa fase do futebol na cidade, o empresário viu a chance de fundar uma equipe aproveitando o elenco vitorioso. As serras que cercam a cidade inspiraram o nome do clube: Serrano. A Federação Bahiana de Futebol, admirada com a qualidade dos jogadores, convidou o time a participar da Primeira Divisão do Campeonato Baiano.

– O Serrano deu sorte, nem jogou na Segunda Divisão baiana. Já foi entrando logo para disputar a primeira. A seleção de Vitória da Conquista foi campeã do intermunicipal, a fase da cidade era muito boa, e o Serrano surgiu aí – afirmou Claudir, ex-zagueiro do time.

Os anos de 1980 entraram para a história como a “década perdida”, mas para o Serrano foram tempos de grandes vitórias. A melhor campanha do time foi em 1986, quando a equipe se sagrou campeã do primeiro turno do Campeonato Baiano. Na partida decisiva, o time venceu o lendário Leônico por 3 a 1.

– Naquela época, 80% do time era formado por prata da casa. Isso era bom para Conquista, o campeonato amador era forte – contou Zoroastro Brito, que jogou como meia-atacante do time.

Gêmeos que confundiam

Zó, como é mais conhecido, jogou no Serrano ao lado do irmão gêmeo, o atacante Clemente Brito, conhecido como Kel. A semelhança entre os dois gerava confusão entre os zagueiros, que eram obrigados a conferir o número para saber quem era quem.

– Mesmo quando nós ficamos mais conhecidos, os próprios jogadores do Serrano se confundiam. O pessoal falava que nós aproveitávamos a semelhança. Um jogava o primeiro tempo, outro atuava no segundo, mas é invenção do pessoal – disse Zó.

Durante o Campeonato Baiano de 1986, uma partida marcou a carreira do ex-zagueiro Claudir. O jogo era em Salvador contra o Vitória e decidia a classificação para o segundo turno.

– O jogo era às 11h da manhã. Eu estava doente, com dor de cabeça, febre muito alta. A casa estava cheia, o campo, lotado. Era um jogo importante, e não podia ficar fora de jeito nenhum. O pessoal me deu banho de álcool na concentração e eu consegui entrar em campo. Nós ganhamos de 1 a 0. Com a vitória, a gente conseguiu a classificação do turno. Eu guardo a camisa do jogo até hoje – afirmou o jogador.

O time acabou na terceira colocação do quadrangular final, perdendo para o Bahia e o Fluminense de Feira. Mesmo sem o título baiano, o Serrano conseguiu duas façanhas nesse ano. A primeira foi a vitória sobre o Bahia, na Fonte Nova, por 6 a 1, um placar ainda nunca alcançado por uma equipe do interior.

– Foi um resultado que nenhuma equipe do interior conseguiu, e, na verdade, ninguém esperava. O atacante Júnior, já falecido, fez três gols no jogo. Foi um dia histórico – afirmou Hélio Brito, supervisor da equipe durante 12 anos.

A segunda façanha foi a vaga na Taça de Prata, a Série B da época. Foram quatro vitórias, três empates e uma derrota. Mesmo com a boa campanha, o time não seguiu adiante.

O Serrano sempre esteve presente na elite do futebol baiano, mas os revezes do esporte atingiram a equipe. Rebaixado em 2004, depois da derrota por 2 a 1 para a Jacuipense, clube da cidade de Riachão do Jacuípe, passou sete anos longe da Série A do futebol baiano.

– Depois de cair para a Segunda Divisão, o time encerrou as atividades. Havia muitos problemas com a diretoria e ninguém quis assumir a fase difícil da equipe – afirmou Hélio Brito.

Dívidas

Só para a Federação Bahiana de Futebol, o Serrano devia R$ 39 mil. Atolado em dívidas, mas presente na memória dos conquistenses, o clube voltou à ativa pelas mãos de um grupo de empresários. Em 2008, com o time na Segunda Divisão, foi montada uma diretoria que pretendia resgatar a equipe.

– Jogamos a segunda divisão como favoritos pela estrutura que montamos, com muitos jogadores e uma boa equipe, mas infelizmente não conseguimos êxito naquele momento – explicou o diretor do clube, Kléber Avelino.

Depois, o atual diretor impulsionou o clube que, tal como os mongoiós, tenta resistir com bravura no cenário baiano para, quem sabe um dia, ver crescer o espaço no futebol brasileiro.

– Acho que o pessoal não acreditava muito no Serrano, mas no futebol é bom você não ser favorito, porque pode se aproveitar disso. O pessoal nos deixa de lado. Com isso, a gente vai chegando – comentou o goleiro André Nunes, que ajudou a equipe a ficar entre os quatro primeiros do Baianão 2011.