Luto em Conquista: Morre o cineasta Gildásio A. Leite.

Após enfrentar uma via cruz no tratamento de um câncer de próstata, faleceu na noite desta quarta-feira,16 de janeiro, o Produtor, ator, diretor teatral e cineasta. Gildásio Amorim Leite.

Em nota no facebook a sua filha Pauline Leite fez o comunicado.  “ È com grande tristeza que comunicamos o falecimento de meu pai Gildásio Amorim Leite, ator, diretor teatral, aos 73 anos.”

 O velório e enterro acontecerá em Vitória da Conquista. Em breve a família voltará a se manifestar para dizer o local do velório e sepultamento.

A família em luto antecipa os agradecimentos”. disse ela.


A Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista manifesta seu mais profundo pesar pelo falecimento do ator, diretor teatral e cineasta, Gildásio Amorim Leite, Vitória da Conquista”.

Leia uma entrevista histórica feita pelo jornalista Fábio Sena com Gildásio:

Filho de Janoca, neto de Tecla, filho de Zé Gonçalves, neto de Inocêncio, pai de Pauline, Paulo Tiago, Gabriele e João Gabriel, garoto precoce e dono de uma extraordinária inteligência, Gildásio Leite integra aquele grupo seleto e raro de intelectuais que conseguiram dar o salto nas gerações, que teve a habilidade para reinterpretar os movimentos sociais, políticos e culturais, incluir-se nesses movimentos pela porta da frente, e que, especialmente, não perdeu o brilho nem a mais sofisticada arma do ser humano contra as opressões cotidianas: a capacidade de sonhar.

Em uma deliciosíssima entrevista ao Blog do Fábio Sena – à qual deram auxílio luxuoso com suas inteligências os jornalistas Paulo Nunes e Luis Fernandes, Gildásio Leite dá uma aula de otimismo, de humanidade, de elegância com as palavras, mas principalmente, faz emergir conteúdos reveladores, conteúdos somente possíveis na cabeça de quem mergulhou fundo na história de sua época – e, no caso de Gildásio Leite, a época é esta contemporânea também –, da qual ele não se aparta. Dono de uma prodigiosa memória e singular inspiração para tratar dos temas mais delicados de forma sempre simpática, Gildásio Leite assegura, entre outras coisas, que seu legado para Vitória da Conquista foi a sua inteira devoção ao teatro como instrumento libertador.

Foi em clima descontraído e saboreando uma daquelas cervejas somente encontráveis no Bar de Paulinho que Gildásio Leite conversou conosco. Trata-se de parte de uma memória cuja leitura vai agradar a gregos e troianos.

Segue:

– Gildásio Leite… cineasta, né?

– É…

– Cineasta!

– É… na verdade, eu sou ator e documentarista.

– Pronto: cineasta, ator e documentarista.

– Cineasta é um nome que… eu não assino. Embora tenha escrito vários roteiros de longa metragem, não realizei nenhum longa- metragem como diretor. Só tenho realizado curtas metragens, então eu não sou cineasta, eu sou ator teatral e cinematográfico. Eu não posso ser cineasta por eu ser ator de cinema.

– Ok. Você venceu. Quer começar falando pra gente sobre Zé Ninguém?

– O Zé Ninguém?

– Sim. De Reich.

– De Reich? Hummm… (faz cara de espantado…)

– Por quê? Você não acredita mais em Zé Ninguém?

– Eu acredito. Inclusive eu adaptei até pro teatro o Zé Ninguém, pra ser encenado aqui em Conquista, e foi um projeto que não foi adiante porque eu tive dificuldade de elenco, de ator pra fazer o personagem, mas isso eu admiro, acho interessante. Tem um filme, um longa- metragem, que é “Quando Nada Acontece”, que é exatamente dentro do arquétipo do Zé Ninguém, um cara que luta a vida inteira para atingir o ápice, que a sociedade gosta de ver o eleito, vitorioso, e ele não consegue, ele não é nada. O filme chama “Quando Nada Acontece”. E por isso o pessoal da Salvador, onde eu tenho mais acesso, muito acesso, né, eu convivi muito tempo em Salvador fazendo teatro, fazendo cinema, eles acham que o filme é uma autobiografia minha, e não é (risos…), mas é interessante.

– Você ficou surpreso com essa de perguntar sobre o Zé Ninguém, não é?

– Fiquei, fiquei bastante surpreso.

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O escritor e historiador Luis Fernandes fazendo suas indagações ao Calando da Véa Galdina

– Me diz uma coisa: você consegue se adequar a essas novas gerações? Você consegue… digamos… você acha que ficou no tempo e no espaço ou que conseguiu se adaptar a essa realidade nova, à contemporaneidade?

– Olha, no momento, na atualidade, a única dificuldade que eu tenho é de abordar uma linguística que a juventude articula hoje, através do facebook, da internet, porque eu não tenho o hábito de manipular, e eu não manipulo essa linguagem, mas eu entendo/compreendo. Agora, linguisticamente, dentro do contexto atual, eu não me distancio da molecada, da juventude. Meus filhos são todos jovens, eles desenvolvem uma prática de percepção do contexto em que vivem, e eu compreendo com facilidade, e tenho feito muito teatro voltado para a juventude, não só nos anos sessenta como hoje, toda a minha prática de teatro tem sido voltada para a educação dos jovens, e não eu não tenho dificuldade de entendê-los e compreendê-los, até dentro das possibilidades… porque tem coisas que…

– Você consegue enxergar de qualquer forma uma diferença entre a sua juventude, entre o pensamento de sua juventude, entre a ação da juventude do seu tempo e a juventude de hoje? Que tipo de comparação você faria?

– Ah, sim, é muito difícil hoje compreender esse comportamento da juventude, porque nós vivemos no terceiro milênio, em que todas as conquistas desejadas nos anos sessenta, na minha adolescência, foram alcançadas. Mas é muito difícil hoje a juventude desenvolver um discurso dialético, analítico, dentro do contexto, porque eles não têm o referencial que nós tivemos. O nosso referencial nessa época era Sartre, Bertold (Brecht), o socialista, a gente… nós líamos, eu li Marx com 17 anos… e hoje o pessoal não tem… não sei se eles desenvolvem esse discurso nos cursos que fazem na universidade, no terceiro grau.

– Nessa época quem era marxista tinha lido Marx mesmo, né?

– Tinha lido Marx… é… Chegamos a Marx, Hegel, então a gente trabalhava com a filosofia, né… de alcance, perceptivo; analítico; crítico. E é o que domina até hoje. Quem escreve hoje, quem faz jornalismo hoje, se não tiver esse referencial ele não sabe o que tá dizendo. Não sabe o que diz.

– Bom, Gildásio, já que estamos falando de juventude, de mudança de tempo, de períodos históricos, você que viveu um período intenso da política partidária no Brasil, você acha que hoje é possível definir o que é esquerda e o que é direita?

– Rapaz… eu fui militante político na Bahia, fui aqui em Conquista como adolescente, quando se criou a UBES aqui eu era moleque, adolescente, era mais novo do que esse Oswaldo aí que foi o primeiro presidente – Oswaldinho Ribeiro, estava com ele agora. Eu era moleque, menino, mas já tínhamos a preocupação de sabermos o que que era o contexto político, social da época. Agora, em Salvador, quando eu fui pra Salvador pra fazer universidade, então eu fui militante lá em Salvador e acompanhei os anos amargos da ditadura, as brigas da ditadura, 67, 68, 69, não só na Bahia como no mundo, porque a gente se articulava com a problemática toda não só na América como na Europa, e no sul do país, Rio e São Paulo. Então toda, essa militância eu conheci, eu convivi com “eles”, e hoje eu me decepciono quando eu vejo o líder do PT no Congresso, que chama Carregosa, defender a base aliada do governo como ele defende, defender o (Carlos) Lupi!… Pô, não tem sentido; então não dá pra entender, pra eu compreender o que é isso.

– Você teve uma vida marcada pela arte, pela produção artística, pela produção cultural. Como você se situa nessa história cultural de Vitória da Conquista, qual é a contribuição que Gildásio Leite deu à Vitória da Conquista?

– Trabalhando com jovens, só. Os grandes espetáculos que eu idealizei, que eu quis fazer em Conquista não foi possível fazer porque não tem incentivo, não tem como realizar. Eu realizei alguns em Salvador, não todos, né, mas em Conquista eu realizei pouco. Mas trabalhei muito com jovem, com moleque, com adolescente e para o adolescente. Então, essa é a grande contribuição. Tem amigos meus aqui formados em Engenharia, em Medicina, em Direito que viram teatro na sua adolescência me assistindo, e eu representando. Então isso é uma coisa que me deixa muito envaidecido, porque eu não sabia que isso ia acontecer.

– (Luis Fernandes) Gildásio Leite é mais teatro ou mais cinema?

– Hoje eu sou audioartevisual! Hoje eu sou visual, artevisual, eu congrego nas três linguagens, né, mas a minha prática é teatral. Eu comecei aqui fazendo teatro porque idealizava, sonhava em fazer cinema! Nós, moleques, aqui, adolescentes, a gente idealizava fazer cinema porque a gente assistia muito os filmes aqui no Cine Glória, no Cine Conquista, no Cine Poeira, e a gente saía da sala imitando os personagens, querendo ser Durango Kid, entende?, desenvolvendo o discurso do personagem. Eu nem sabia qual era o arquétipo de um personagem, mas a gente saia imitando os personagens dos bang-bang, dos filmes clássicos que a gente assistia. E a prática para se chegar a isso, pra se chegar ao cinema tinha que ser a representação, o teatro. Saber o que que é representar um personagem. Então eu fui procurar uma escola de teatro. Eu fiz teatro aqui, na adolescência, e depois eu fui me formar. Eu me formei, eu sou ator e sou diretor teatral graduado pela UFBA, certo. Não tenho orgulho disso, não, mas eu fiz isso (irônico…). Mas consegui entrar, fazer o cinema, que eu queria. Logo que chego em Salvador eu fiz meu primeiro filme. O primeiro filme que eu fiz foi um filme italiano, da Fama Filmes, sobre o cangaço, um filme com Thomás Milliam. Esse filme passou aqui em Conquista, eles anunciavam, que Raimundo exibia no Cine Glória “com artista conquistense” (rsrsrsrs). Era um Bang Bang Nordestry, com Tomas Milian, era a Rebelião dos Brutos*, não pôde ser registrado no Brasil como “O Cangaceiro” então ficou o título “Rebelião dos Brutos”. E é um filme extraordinário de interessante. E eu tenho a cópia em italiano, não tenho ela dublada – dublada não foi, foi telecinada com legenda. Eu não tenho essa cópia, tá no Museu de Imagens de São Paulo. Mas em italiano eu tenho a cópia, é interessante, é o primeiro filme que eu fiz. E fiz outros filmes na Bahia, filmes baianos e filmes do Rio e São Paulo. Então eu consegui realizar alguns filmes como ator, entendeu, na minha verve deve ter 15 ou 16… 16! 16 filmes longa metragem. E curta metragem eu fiz uma série, dirigi alguns e trabalhei com outros como participação de equipe, mais de trinta! É… ‘tá tudo arquivado e guardado esse material, entendeu?

– (Luis Fernandes) Você pretende, quem sabe… lançar um livro contando a história do teatro de Conquista, sua vida em teatro, sua vida em cinema, o cinema em Conquista?

– Eu comecei até a escrever como foi que surgiu o teatro na nossa geração, mas me perdi, era uma revista, Mas é interessante contar a arte em Conquista, não só dessa época, desse período da minha adolescência, que é 1960, como a de hoje. Hoje se desenvolve uma arte mais concreta, mais objetiva, mais racional. Nosso tempo também era uma arte muito subjetiva, mas a gente sabia o que queria, é uma arte mais limitada, mas hoje com o domínio dos “acessos” da comunicação, então… o teatro de Conquista não tá mal, agora falta incentivo pra que ele possa produzir um bom resultado.

– Gildásio, você consegue fazer uma análise também subjetiva do que foi que lhe conduziu à arte, ao teatro, ao cinema. Você tem alguma reminiscência de quando foi que você deu o estalo pra isso?

– Olha, eu sempre fui um menino precoce. Eu fui criado por meus avós. Quando nasci, a minha mãe não pôde me alimentar porque meu parto foi muito complicado, foi aqui na fazenda Volta Grande, do meu avô, a três km de Conquista. Aí, a minha tia me levou pra casa do meu avô, para poder me amparar. Então, daí eu não voltei mais pra casa de minha mãe, eu fiquei, fui criado por minha tia e meus tios e meus avós. Eu conheci meu avô, minha avó. Eu convivi com meu avô e minha avó e eu fui muito precoce, eu fui muito criado solto mas compreendendo as limitações que estabeleciam pra gente, meu avô, minha avó, meus tios. Mas era isto precoce, e aí eles me puseram o apelido de “Calango da Véa Galdina”, porque eu era um cara cômico, era, era um dos cômicos que facilitava a alegria na casa, nos eventos, acontecimentos, acharam eu parecido com um cara que era quase um palhaço e isso não me saiu da memória, né, e a minha avó sempre me codenominava de “Calango da Véa Galdina”, e logo depois eu conheci o circo, aqui em Conquista, o meu tio me levava pro circo e eu assistia todos os espetáculos do Circo Nerino e os dramas, eu moleque, 3 anos, 4 anos, eu descia com meus tios pra vir aqui fazer o cabelo na banca de Estelina, aqui no Beco da Tesoura, Valdemar nesse tempo já era cabeleleiro. Veja só! Já tá de cabelo branco, bicho (riso), já deve ter uns oitenta (mais risos…); então eu assisti muito. Eu fiz muito espetáculo, eu vi muito espetáculo no Circo Nerino*, grandes dramas da representação, e o palhaço Picolino, então isso foi bacana pra minha compreensão, e logo depois eu entro para a Cruzada, no Salão Paroquial, que já vinha do teatro do salão paroquial, já existia o grupo de teatro salão paroquial; como eu era menino eu, na cruzada, dona Geraldina desenvolvia uma prática de encenação de peças teatrais. Então, eu comecei praticamente moleque no salão paroquial. Depois passamos a encenar pequenos textos e, logo então, passamos a encenar textos… Saímos do teatro catequético, o teatro do salão paroquial era muito catequético, mostrando as contradições dos efeitos da religião do pecado, do bem e do mal, então nós passamos a fazer um teatro para discutir o contexto social da realidade, e isso já no salão paroquial. Isso com muita influência do Padre Benedito.

– É muita precocidade mesmo.

– É. A gente já tinha essa preocupação social, não é, e ao mesmo tempo, na escola, a gente desenvolveu a militância política, o surgimento do PCzão aqui, do PC, das lideranças políticas, essa influência toda no início dos anos sessenta, no final dos anos cinquenta pra sessenta, então houve muito essa influência e a gente participava. Então, o que é que íamos: discutir a realidade brasileira. Então, passamos a ter essa preocupação de fazer um teatro voltado…

– Você já era ator?

– Sim, eu já era ator, já tava trabalhando, mas quando eu decidi mesmo ser ator, não fazer outra carreira acadêmica, então eu já tava querendo decidir pra que caminho eu deveria seguir. Eu já tava com 14 anos, eu já tinha ultrapassado a adolescência. Eu já tinha saído da idade do perigo, porque eu já era, né, 16 anos, com 17 anos eu já tava em Salvador, 18 anos eu já tava em Salvador, tentando vestibular, já tinha escolhido teatro.

– E o cinema? O Gildásio do cinema? Dos longas que você acabou citando aí, dos curtas, tem algum filme que você fez que o deixou bastante realizado?

– Tem… não… no começo, esses filmes foram interessantes pra mim… esses foram muito interessantes, esse primeiro que eu fiz com 22 anos de idade, você não me conhece no filme, você vê o filme e você não me conhece, mas ‘cê sabe que sou eu, né, esse filme eu tava com 22 anos de idade. Logo depois eu passei a…

– Você fez que papel nesse filme?

– Eu fiz um bandido que se torna cangaceiro; é interessante esse filme até, é interessante esse filme. E é a narrativa – inclusive, o roteiro é de Agnaldo Silva, ele praticamente começou a trabalhar com dramaturgia na Itália, ele começou lá. E eles vieram filmar aqui no Brasil um roteiro dele, que tem uma adaptação também dos italianos, do pessoal que fazia bang-bang italiano, da Fama Filmes. Então, logo em seguida eu fiz um filme com Nelson Pereira, que é da obra de Jorge Amado, Tenda dos Milagres, que é um filme interessante, e que…

– Ainda na condição de ator…?

– Sempre como ator. Sempre como ator. E mais outros filmes baianos, que foram até laureados, premiados, nos festivais nacionais, e eu tive oportunidade de ir pro festival de Brasília, no Festival do Rio Grande do Sul, Gramado, tá entendendo, participando, eu já andei um pouco, né, já andei, e daí dos documentários eu fiz muito documentário em Salvador sobre a problemática cultural, fazia uma abordagem sobre a cultura baiana, as festas populares, que é interessantíssimo, todo o período de festas populares da Bahia, e o interior da Bahia, eu conheço muito aquele reduto ali de Salvador, o Baixo Sul, Cachoeira, Nazaré, essa região toda ali próxima a Salvador até Sergipe, documentando o costume do povo nordestino. Eu, como assistente, como câmera, até como eletricista, puxando cabo de fio, microfone, eu fazia isso, eu participava. Eu fazia de tudo, eu sei fazer de tudo no cinema, sei exercer toda essa prática. E depois passei a dirigir aqui, fiz alguns curtas, fiz um filme aqui que é muito interessante que é sobre uma crônica da cidade, que o personagem é Gaguinho.

– Eu lembro.

– Viu? Esse filme é interessante. Foi mostrado em muitos lugares e estou finalizando outro.

– Tem projeto engavetado aí?

– Tem. Eu ‘tou finalizando um agora, que eu comecei a gravar em 85, quando estava fazendo a barragem de Anagé. Eu já fiz esse filme, já foi editado…

– Que interessante… você tem imagens daquele período?

– Tenho. E aí eu estou reeditando, eu ‘tou fazendo um retratamento de todo esse documentário que é “Os pobres do campo”, que é o surgimento da luta dos posseiros, dos sem terra. É o começo da luta dos posseiros, então eu ‘tou dando um tratamento nesse material, que é “Os pobres do campo”. Inclusive, eu digo pra vocês, tenho depoimento de Everardo (Públio de Castro), entendeu, de todos esses políticos, é interessante essa abordagem… e ‘tá perfeito, foi gravado em “U-Matic”, que era a linguagem que dominava na época, e VHS, Super V. Nós não tínhamos de hoje o recurso digital, mas o que foi feito era U-Matic, eram câmeras profissionais e que tinham um bom recurso.

– Você está em que fase desse documentário?

– Eu ‘tou retratando, dando um tratamento no áudio, e as imagens já estão recuperadas, já ‘tou querendo reeditar elas, já finalizar.

– Quem é o grande cineasta brasileiro na sua visão e por quê que é este?

– Olha, dizem que citar Glauber é chavão, mas é um grande cineasta, né, o Glauber é um grande cineasta, eu ainda conheci Glauber, eu conheci Glauber ele já cineasta, ele com 22 anos fazendo Deus e o Diabo (na Terra do Sol), e, de vez em quando, ele vinha aqui em Conquista e andava muito com uma bíblia preta debaixo do braço, que era o livro de Eisenstein, que é um dos maiores cineastas russos…

– Sergei Mikhailovitch Eisenstein

– É, Sergei Eisenstein. Ele andava muito com o Eisenstein. E muito tempo depois eu conheci Glauber assim, de bater papo, igual nós estamos aqui. Quando ele fez o último filme dele, nós fomos lá no set, que era na Vila Romana, em Salvador, na Barra, eu ia fazer com ele… duas vezes tentei trabalhar com ele mas não deu certo… Ele fez o “Dragão da Maldade contra o santo guerreiro”, que é um dos primeiros roteiros cinematográficos dele, que ele faz uma abordagem sobre Conquista, o discurso dele todo é conquistense. O Dragão, o personagem dele, Antônio das Mortes, é um arquétipo conquistense, de um pistoleiro que matou Esmeraldino, que era casado com uma parenta da mãe dele; Esmeraldino era casado com a irmã ou a tia de dona Lúcia (Rocha) e foi um crime que arrasou a família, um crime que causou pânico, discussões, e Glauber era menino, tinha 4 anos de idade, então Antônio das Mortes é o arquétipo desse pistoleiro, é um pistoleiro que era exatamente como o Antônio das Mortes se vestia. então o Glauber era um cara que… e depois, os filmes de Glauber são filmes que fazem uma abordagem do contexto brasileiro, da realidade brasileira, e são filmes inteligentíssimos, porque ele faz um discurso não-maniqueísta , com início, meio e fim, Glauber faz um discurso que se você não tiver uma boa percepção você não entende, não sabe o que é que ele tá dizendo.

– Se cansa logo.

– É… cansa logo e sai fora, entendeu? E ele, como muitos outros cineastas desse período, contribuiu muito para o cinema brasileiro. Você não pode deixar de citar o Nelson Pereira, né, e até o Cacá Diegues, entendeu? É… o Jabor… tem muitos cineastas que eu gosto, são meus amigos, e eu acho interessante. Como tem cineastas agora recente novos, moleques, que fazem um bom cinema. O cinema brasileiro não está mal, está muito bem, né. Só que é um outro discurso, é um outro contexto. Mas é isso aí.

– E que discurso é esse, esse novo discurso?

– Contemporâneo, discurso da contemporaneidade, que entra não só o problema existencial como o problema psicológico, psicanalítico, né, porque hoje o que predomina é a existência, é o ser, o que você é, “nesse momento você é o que?”, “você quer ser o que?”, então esse é que é o grande mote, e a maioria dos filmes, não só brasileiros como os filmes europeus e americanos, desenvolvem esse discurso, do sentido, da existência, não é?, do sentido da existência, que são essas crises existenciais que não só o homem tem como a mulher, de definição. Agora, isso tudo, diz a história, que já existiu no passado, é que nós não conhecemos a história, nós conhecemos a nossa realidade que é agora, então achamos que está acontecendo agora, mas tudo isso já foi discutido e já foi vivenciado no passado. Eu não sei bem definir mas é uma repetição, a vida é dinâmica, é constante, né.

– Você falou aí numa safra nova. Você participou de Central do Brasil. Fala um pouco aí sobre essa participação sua.

– Foi a safra novíssima, porque o cinema tava morto. Quando o Collor entrou na sistemática da conjuntura ele destruiu com a Embrafilmes, então tudo o que vinha até então do Cinema Novo e o cinema da Embrafilmes que queria desenvolver e implantar a indústria nacional, aí acabou. Então o cinema ficou um período, morto. Uns sete anos, seis anos sem acontecer nada… e o Waltinho (Walter Sales), quando Waltinho surgiu como documentarista, e aí quando veio fazer o Central do Brasil ele trouxe um gás novo, uma energia nova, não é? Ele foi um cara que queimou um fogareiro, fumaçou e deu um bom resultado, então foi a partir desse momento que o cinema revigorou-se, né, para produção nacional. Então foi muito importante. E eu estava aqui de bobeira, conheci o pessoal que trabalhava com ele, o pessoal da produção, e aí ele falou assim: “Pô, Gildásio, eu já fiz tudo o que tinha que fazer com você, eu filmei em Milagres, em Salvador, e eu não tenho nada pra te oferecer, eu só tenho uma aparição de um personagem de uma figura num ônibus”; e eu digo: “mas não tem problema não, Walter, eu faço com o maior prazer”. E aí nós fomos lá, foram dois dias de filmagem, e a aparição desse personagem virou… ele falou “Ó, Gildásio, depois que você apareceu, virou personagem. Você é um personagem no filme”. E eu apareço um minuto e meio, e é marcante minha aparição. Eu recebi cartões de amigo meu da Europa, da América, amigos da minha área, falando assim: ‘porra, bicho, eu lhe vi hoje no Central do Brasil’; e fazem algumas abordagens sobre a minha participação, porque só houve um corte: eu estou lendo um jornal – eu me tornei um personagem que era um vendedor de remédio, que tava dentro do ônibus, viajando juntamente com a Dora e com o menino; o menino, ela ia em viagem ao norte em busca do pai do menino, e ela toma um goró, fica bêbada, o menino bebe a metade e começa a peruar dentro do ônibus. Eu estou no ônibus lendo um jornal. Eu virei um personagem, um vendedor de remédio. Eu olho pra ela e digo: “gostosa”. Ela me chama de palhaço. Só que o ‘gostosa’ eles cortaram. O Walter disse: “ó, eu tive que cortar porque foi uma tomada só”, e aí ele conservou e disse: “você virou personagem do filme”. Então foi bom a participação, agora, eu acho o seguinte: é um grande filme, é um filme interessante. O Waltinho desenvolveu um discurso sobre a questão do menino, da infância, quando ele poderia também ter desenvolvido um discurso sobre a Dora, que é uma mulher sexagenária, professora, pobre, miserável, sem marido, sem nada, e sofrendo, que é a realidade hoje da mulher, então ele não aprofundou nisso aí, ele disse que não tinha como, que não tinha limites pra poder aprofundar nesse discurso…

– Ele escolheu o garoto…

– É… e o foco foi o garoto, mas o personagem de Dora é interessantíssimo, e você percebe, como eu percebi, fazendo essa leitura, por isso ela foi indicada pra disputar o Oscar, e foi a primeira vez que eu disputei o Oscar em Hollywood (risos).

– Me diga uma coisa: quem é Gildásio Leite por Gildásio Leite.

– (Pausa dramática e meditativa…) Eu sou um conquistense, que passou a racionalizar e a visualizar a minha cidade, o meu pião, eu rodo em cima do meu pião, por isso eu estou aqui hoje sentado falando com vocês. E tô sempre aqui em Conquista, rodando em cima do meu pião, e querendo entender o meu contexto, a minha realidade, porque foi daí que eu surgi, que eu passei a ser eu. Porque se não fosse isso, se eu não tivesse essa percepção, eu não seria Gildásio Leite, eu não teria essa preocupação com o momento atual, com a realidade brasileira, e nem esse contexto em que nós vivemos.

– Me dá um pouquinho da sua biografia pra mim, o dia que você nasceu, data, nome de pai, nome de mãe, nome dos avós que te criaram…

– Rapaz… o meu avô era um coronel conquistense, Inocêncio Alves Botelho. Ele usava botina até o joelho, era muito amigo de dr. Crescêncio (Silveira), do seu Cazu, anterior à geração de Crescêncio Silveira, mas era contemporâneo de dr. Régis seu Cazu. E ele veio pra Conquista como todos os conquistenses que fizeram essa cidade, né, porque ninguém nasceu do ovo, né, veio pra cá pra fazer essa cidade, e ele também veio nessa cidade. Meu avô era tropeiro e aí e veio pra Volta Grande aqui, indo pra Barra do Choça… Essa geração do Choça, desse lado de cá, tem uma cultura, o lado de baixo tem outra cultura, sabia? Aqui nos… descendo pro Rio, indo pra Itambé, tem outra cultura, indo pra Anagé tem outra cultura, é um um feixe, são quatro raios, que pra você entender Conquista, entender a suas história, é preciso entender isso aí: do Choça, essa região aqui de Itambé, né, que é dos Jiboeiros, a saída aqui de Anagé.. é… essa região, e dominava aqui nesse reduto aqui de do Choça, é onde tinham muitos coronéis que dominavam, então… a geração foi muito grande, meus tios foram muito influentes aqui na cidade, influentes politicamente, foi através de meu tio, irmão de minha mãe, (?) Botelho que eu conheci, eu comecei a fazer política com Pedral.

– Ok…

– A minha avó era Tecla Amorim Botelho.

– Tecla?

– Tecla. Tecla. É dos Amorins do Choça e os Botelhos vieram pra cá de origem portuguesa, tem muitos Botelhos em Anagé, aqui em Conquista e no Rio de Janeiro, em Salvador tem muitos Botelhos, que são da família do meu avô, eram sete irmãos. É interessante: eu andei pesquisando, porque eu não sabia, não conhecia a minha família, não conhecia a minha árvore, meu pai é Leite, meu pai é de Minas Gerais, de Monte Verde, veio via Brumado, Ituaçu, pra Conquista…

– Qual é o nome dele?

– Teódolo de Oliveira Leite, “seu Duzinho”, pai de Bráulio Leite, Arménio, Cremílda e Altína, pois ele era viúvo e já tinha esses quatro filhos que são meus irmãos. Depois campiando uma namorada conheceu minha mãe Dona Janoca, Joana Alves Botelho, filha de seu Inocêncio Alves Botelho, gerando mais três rebentos que somos nós: Geovane, Grimaldo e eu Gildásio leite. Eu fui criado nesse contexto aí, de família, e ele não teve influência de mando, de mandonismo em Conquista. É tanto que eu comecei logo garoto, com quatro, cinco anos, em 58, fazendo política de Pedral! Meu tio era fã e era partidário do grupo PSD em Conquista. E eu andava com eles, e a cartilha que eu lia era essa cartilha deles. Então eu já tava no palanque, eu fiz muito discurso produzido por Everardo, e eu fazia muito discurso, é… eu gostava de representar e já discursava, nos palanques de esquerda, contestando a realidade. Eu tive essa influência. Mas logo depois eu fui embora e a coisa gerou por outros caminhos aqui e eu fiz outro caminho, de Salvador. Mas no começo, eu tive essa participação, 58, 62, quando Pedral foi cassado, nós estávamos no Jardim das Borboletas, assistimos tudo, a prisão, a missa de Ação de Graças na Catedral, né, e os acontecimentos, que geravam em torno dos fatos políticos nessa época. Mas quando eu fui pra Salvador já foi em 60… eu fui em 65, depois retornei, voltei, em 67 eu já tava na faculdade, tinha feito vestibular e em 67 já estava cursando universidade, então eu saí daqui e fiquei fora 20 anos. Mas sempre sabendo dos acontecimentos da cidade. Sempre vinha aqui. Eu morei no Rio, morei em São Paulo, mas não deixava de vir no Natal, vir no São João em Conquista, e por dentro de todo esse fervilhar político daqui. Agora, em 80, de 80 pra cá, eu vim fazer um espetáculo e dei um tempo aqui em Conquista, fiquei por aqui… Antes da Abertura tava impossível viver na Bahia, porque a ditadura, a censura era ferrenha, foi o período que muitos contemporâneos meus saíram de Salvador e foram pra Chapada, pro Rio, desceram, foram pra Chapada, por exemplo: Pola, Edgar Navarro, muitos cineastas, sabe, saíram de Salvador e foram pra Chapada, e eu fui um dos que vim pra Conquista. Fui morar onde: dentro da fazenda. Eu tinha uma gleba de terra, fiz uma casinha e aí, fui morar na fazenda e foi onde gerei meus filhos, nasceram 4 filhos meus aqui, nessa época.

– Quais os nomes deles, de seus filhos… ?

– Pauline, Paulo Tiago, Gabriele e João Gabriel, todos da área de cinema ou de televisão. Todos eles trabalham na área.

– Você não falou o nome da sua mãe…

– Minha mãe é Janoca. Joana Botelho Leite.

– Você está à caça do filme “O Tropeiro”. Porque você quer tanto esse filme?

– Porque, bicho, eu vivenciei esse período, entendeu, eu já conhecia Aécio, eu era muito curioso, eu conhecia Glauber como eu conhecia Aécio. Aécio é primo de Glauber; Aécio (Andrade) saiu daqui moleque e foi pro Rio de Janeiro, estudou no Conservatório Nacional de Teatro. Quando eu saí daqui pra fazer teatro, eu fui pro Rio, aí eu fui pro conservatório que era a única escola de artes cênicas e artes do Brasil. Lá, Aécio estudava cinema, depois disse: “bicho, eu vou fazer um filme em Conquista”, e aí ele veio em 61 fazer esse filme aqui, “O Tropeiro”, que é um argumento em cima do Tamanduá, que é o retorno pra vingar a morte dos dois irmãos. O tropeiro é exatamente isso. E aí vem muita gente de Pernambuco, do Rio, de São Paulo, do Rio Grande do Sul… eu convivia com esse pessoal todo e acompanhei todo o processo de filmagem, do set, acompanhei algumas seqüências de filmagem, com Aécio e com a equipe, né, então participei até de instantes; tem uma seqüência de uma luta lá no Iguá que eu participei, eu estou atrás de uma cerca, numa luta de facão, e é o único momento que eu estou no filme, nas primeiras versões do filme eu estava, agora a última eu não sei. Aécio me disse que o filme estava telecinado pra fazer uma cópia em DVD, e não foi feita até hoje, e eu fico brigando, catando Aécio em todo canto pra poder fazer, porque esse filme é importante pra história de Conquista e do cinema baiano. Embora seja um filme que tenha, assim, uma certa apelação na linguagem, porque foi um filme que deu público, o pessoal ia pro cinema pra ver o tropeiro, não só pelo tropeiro em si, né, pela história em si, como a exploração que existia no filme da chanchada, da pornochanchada, ele utilizou muito isso. As personagens andavam seminuas, entendeu? Tinha uma personagem que chamava “Ingrid L’amour que era uma atriz francesa que não veio, mas ele trouxe uma atriz do Rio de Janeiro…

– É uma francesa genérica…

– É, genérica (risos) com o nome “L’amour”, que é interessantíssimo, e quem usufruía dela era o ator conquistense que fazia o personagem, que era filho de… irmão de… um ator baiano que, quando participou do filme… o Osaná, Osaná Rocha, que é um ator… não era um ator, era um conquistense que…

– Fez uma ponta…

– Não, ele é ator, porque ele contribuiu com a produção do filme e virou ator. Era ‘posudo’ e virou ator. Mas esse filme é interessante. Estão brigando, tão dizendo que o filme vai surgir aí e eu tou cobrando; agora no final do ano eu tava em Salvador com um amigo meu que tinha o endereço de Aécio, nós tentamos falar com Aécio mas não atendeu, não respondeu, então passamos um e-mail, ele ficou de responder e eu não sei do resultado. Mas estamos querendo ver porque a gente tem condição de fazer a cópia, já que tá todo com o roteiro em negativo com tratamento, em telecine dá pra sair. Não dá pra sair película porque é muito caro.

– Quem foi o maior pilantra da história do Brasil? Assim, o mais vagabundo?

– Da história do Brasil?

– Pode ser contemporânea, também…

– Porra, bicho… não diga isso.

– Aquele pilantra, assim, que ‘cê fala assim…

– Bom, na política, eu acho o paulista, né, o que era prefeito, que foi governador de São Paulo…

– Maluf?

– Maluf.

– Você acha que ele supera Collor?

– É… ele supera Collor. Agora, Collor não foi tão malandro assim, não, certo; o Collor… ele não foi. A pilantragem maior… A pilantragem maior dentro do contexto brasileiro, da conjuntura brasileira, foi o Mensalão! Foi pior do que os trinta mirrèis que a tiazinha do Collor puxou pra poder fazer a casa da Dinda.

– Você já passou poucas e boas nesse negócio de cinema político, não é?

– Olha, eu estava em… em 69, eu tava gravando uma passeata na praça Castro Alves, com João Jorge Amado, o filho de Jorge Amado, ele com uma Super 8, eu com ele gravando, eu gravava e ele gravava, é muito meu amigo o João Jorge Amado, filho mais velho de Jorge… aí, nós estávamos de frente ao A Tarde, a polícia tinha atirado em um garoto e tinha matado um garoto, de frente ao Cine Guarani. Então nós estávamos no A Tarde, diante daquele tumulto, toda aquela discussão, vinha a viatura, leva pro IML, e prende, e tal, e nós estávamos gravando esse material. Aí chega sabe quem? Ettiene, coronel da PM, pica-lhe a Fanta aqui no meu pescoço, a câmera cai, João Jorge pega a câmera, ele toma a câmera de João Jorge e pega uma sacola de fita que nós gravamos toda a passeata. Eu só fiquei com a fita pequena de super 8 que é 400 pés, cinco minutos, só, nó bolso da camisa, e ele levou tudo, e não recuperamos. E prenderam a mim e João Jorge. Na Tarde ali da praça Castro Alves, dona Regina, o pessoal, liga pra ACM… Quem atende é Luis Eduardo Magalhães. Aí Luis aparece lá e consegue contornar a situação. Solta João Jorge e aí quer me levar preso. João Jorge falou: “Não, Gildásio está comigo, eu só vou se Gildásio tiver solto”; e aí foi que eu saí. Mas se não eu seria preso. Foi interessante esse fato (risos…).

– Então foi o dia em que ACM te salvou?

– Foi… Luis Eduardo. Eu conhecia muito Luis Eduardo. Mas foi dona Regina que ligou pra poder resolver a situação por causa de João Jorge. né. Jorge Aamado… ninguém mexia com Jorge Amado. Mas João Jorge indo preso… e era Ettiene, bicho, eu conhecia Ettiene. Eu conheci aqui, e aparece o fantasma lá em Salvador, de frente ao A Tarde.

NOTAS DO EDITOR-BLOGUEIRO:

* O Circo Nerino esteve em Vitória da Conquista em 1958 entre 18 de junho e 12 de agosto. O Circo Nerino nasceu em Curitiba, PR, no ano de 1913, e apresentou seu último espetáculo em 1964, na cidade de Cruzeiro, SP. Durante quase 52 anos, num vai e vem contínuo, circulou por todo o Brasil: sul, sudeste, norte, nordeste, centro-oeste. Viajou de trem, navio, barcaça e, por fim, de caminhão em estradas de terra que na época eram de terra mesmo. E numa época em que o circo era o maior , quando não o único, espetáculo das terras do Brasil.

** Serguei Mihailovitch Eizenshtein foi um dos mais importantes cineastas soviéticos. Foi também um filmólogo. Relacionado ao movimento de arte de vanguarda russa, participou ativamente da Revolução de 1917 e da consolidação do cinema como meio de expressão artística. Notabilizou-se por seus filmes mudos Strike, O Couraçado Potemkin e Outubro: Dez Dias que Abalaram o Mundo, assim como os épicos históricos Alexander Nevsky e Ivan, o Terrível. Sua obra influenciou fortemente os primeiros cineastas devido ao seu uso inovador de escritos sobre montagem.

*** Seu Cazu: Casemiro Gomes Cardoso, geralmente conhecido como “Seu Cazu”, nasceu no município de Urandi (BA), quando ainda pertencia a Caetité (BA), no dia 4 de março de 1876. Chegou a Conquista no dia 11 de agosto de 1911 e dedicou toda sua atividade de trabalho a sua fazenda de pecuária e ao comércio de gado. Casou-se com D. Cândida Silveira (irmã do médico Crescêncio Silveira) no dia 23 de fevereiro de 1907, com quem teve 10 filhos, todos conquistenses, com exceção do primogênito (Moderato). Faleceu nesta cidade em 3 de abril de 1979, aos 103 anos de idade. A sua longevidade o fez presenciar o crescimento e o desenvolvimento de Vitória da Conquista (Taberna da História).

**** Quem se lembra de O tropeiro, de Aécio F. Andrade, que parece ser oriundo de Vitória da Conquista? Realizado em 1964, conta com Mozart Cintra, Elizabeth Imperial, Carlos Aquino, Jurema Penna (grande atriz baiana da Escola de Teatro de Martim Gonçalves), Mozael Silveira. Vale observar que a direção de arte deste filme vem assinada por Agnaldo Siri Azevedo, que mais tarde é o diretor de produção preferido de Glauber Rocha. E a música do grande Remo Usai. A fotografia de Waldemar Lima, o mesmo iluminador de Deus e o diabo na terra do sol. Filme raro e desaparecido, portanto, que está apenas na memória daqueles que participam de sua elaboração muitos dos quais já mortos. Curioso é constatar que a montagem é de Calazans Neto, artista plástico de renome. Fonte: http://setarosblog.blogspot.com/