Otto Alencar (PP) diz que César agiu de má-fé no atual contexto, e tamém reflete as suas razões por conta de seu atual posiconamento no processo político na Bahia.

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“César agiu de má-fé comigo apenas para servir aos interesses de Geddel”

Osvaldo Lyra – Editor de Política

Depois de cinco anos e meio afastado da atividade política, o ex-conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios, Otto Alencar (PP), retorna com fôlego para a velha arte e com o desafio de enfrentar novamente uma campanha a sucessão estadual, ocupando a vaga de vice na chapa do governador Jaques Wagner (PT). Com o legado do carlismo nas costas, Otto garante que tem se sentido à vontade na nova casa, o Partido dos Trabalhadores, outrora adversário. Nessa entrevista à Tribuna da Bahia, ele fala sobre o porquê da volta, as expectativas para a campanha, os aprendizados obtidos na legenda que o abrigava, o que pesou estar ao lado do atual governador e as recentes divergências com o senador César Borges (PR). Natural de Ruy Barbosa, o médico Otto Roberto Mendonça de Alencar, de 62 anos, classifica como desonesta as comparações com os três anos do governo Wagner com as gestões anteriores. “Três anos e meio é um tempo curto demais para resolver o problema da segurança pública. Não venha me dizer que todos esses meliantes foram criados no atual governo”.

Tribuna da Bahia – Sua trajetória política sempre foi ao lado do ex-senador Antonio Carlos Magalhães. A ida agora para o campo oposto, do PT, será absorvida pelo eleitorado na campanha?
Otto Alencar –
Os meus antigos aliados e amigos – aliás, sempre digo que na política fiz amigos – foram consultados antes de eu tomar essa decisão e todos concordaram. O certo é que eu encerrei minha participação no carlismo em 2004. Quando eu decidi sobre isso, nesse período, um jornalista me perguntou por que eu estava saindo e eu respondi que havia concluído meu ciclo político. Portanto, encerrei minha participação política com Antonio Carlos ainda vivo e fui para o Tribunal de Contas dos Municípios, onde passei cinco anos e meio. Depois fui convidado a voltar à política pelo PP e pelo governador Jaques Wagner e resolvi aceitar esse desafio. Mas eu não tomei essa decisão sozinho. Ouvi deputados, prefeitos, vereadores e todos concordaram. Mesmo porque, depois do afastamento do senador Antonio Carlos, o carlismo se dividiu rapidamente. Imbassahy, que era do grupo, foi para o PSDB. César Borges saiu do DEM e foi para o PR. Ou seja, cada um tomou o seu caminho e eu, como era de esperar, também tomei o meu.

TB – O que pesou na hora da escolha pelo apoio a Wagner e ao PP?
Otto –
Pesaram os apelos feitos por várias lideranças para que eu retornasse à política, também o apelo do governador Wagner, do deputado federal Mário Negromonte e de amigos meus que militam no PP. Eu resolvi voltar à atividade política porque tenho gosto pela política. Aliás, tenho duas paixões em minha vida que são a medicina e a política. Portanto, resolvi atender ao meu desejo, à minha consciência, à minha vontade.

TB – Alguns setores da esquerda, sobretudo do PT, nunca esconderam a insatisfação com sua adesão à chapa do governador. Acha que de alguma maneira isso pode atrapalhar?
Otto –
Não. Além disso, não foi uma adesão. Recebi um convite do governador e do PT, inclusive, o presidente do partido, Jonas Paulo, veio até aqui me convidar, conversar comigo, como outras lideranças também me convidaram. Até agora eu não tive problemas com nenhum membro do PT. Todos me trataram muito bem. Às vezes quem está de fora pensa diferente dessas relações políticas que eu estou tendo agora com o Partido dos Trabalhadores, mas eu sempre tive boa relação com eles. Fui presidente da Assembleia Legislativa e tive ótima relação com todos os deputados do partido na época. Inclusive, quando fui presidente, fiz questão que um deles fizesse parte da Mesa Diretora. Lembro que o segundo secretário da Assembleia foi o atual prefeito de Vitória da Conquista, Guilherme Menezes, com quem eu tive uma ótima relação. Na política, quem avalia de fora uma aliança dessa natureza pode pensar que ela acontece por causa de favores e interesses pessoais, mas não foi isso que aconteceu, e, sim, o fato de haver uma integração. Se eu chegasse e fosse mal recebido, não iria. Nunca empurrei porta trancada, pois gosto de entrar no salão com a porta aberta e ser bem recebido pelos que me convidam.

TB – Houve algum tipo de convite do candidato do DEM, Paulo Souto, e ou do postulante do PMDB, Geddel Vieira Lima?
Otto –
Não tive nenhum convite de Paulo Souto nem de nenhum dos outros. Mesmo porque, depois que fui para o Tribunal de Contas e me afastei da política, houve um distanciamento muito grande, principalmente, dos integrantes do carlismo e do ex-grupo.

TB – O que citaria como aprendizado mais importante durante o período em que passou ao lado do senador ACM?
Otto –
Cito como aprendizado a experiência política e administrativa. Fui líder de governo no período em que Imbassahy foi governador interino, fui presidente da Assembleia, fui secretário de Saúde, fui vice-governador e conheci toda a Bahia. Talvez eu não precise consultar nenhum livro ou pegar qualquer informativo da política para saber quem é quem na política. Por exemplo, se pegarmos o roteiro do último município do Extremo Sul que é Veredas, para chegar a Abaré, para sair em Santa Rita de Cássia e chegar a Cachoeira – eu conheço tudo.  Tenho o mapa político da Bahia todo na minha cabeça, e isso talvez tenha sido o maior aprendizado. Além disso, o dia a dia da política vai ensinando tudo.

TB – O senhor e o senador César Borges já deixaram clara a rivalidade. Isso é uma coisa nova ou já existia, enquanto eram do mesmo grupo político?
Otto –
Não existe rivalidade, não é coisa antiga. Eu nunca tive nenhum problema político ou de relação pessoal com o senador César Borges. Tanto não tive que, quando ele estava pra vir para aliança com Wagner eu abri mão da primeira opção de ser senador para ser vice-governador. Portanto, quando fiz isso demonstrei que não tinha conflitos, nem guardo nenhum tipo de rancor ou ressentimento dele. Um outro exemplo ocorreu em 2002, quando eu fiz a sucessão e o senador Antonio Carlos me chamou até sua casa e me perguntou se eu queria fazer sucessão ou sair ao Senado, dizendo que César queria muito ser senador. Então eu disse para deixar ele ser. Nesse caso eu iria fazer a sucessão e ficar sem mandato. Nunca tive problemas com isso.  Recentemente o que aconteceu foi que, inesperadamente, depois que César fez aliança com o ex-ministro Geddel ele destituiu em Ruy Barbosa o diretório do PR e constituiu uma nova comissão provisória. Em seguida mandou entrar com um processo de dupla filiação contra mim e eu reagi, concluindo que isso tenha servido de instrumento do deputado Geddel para me prejudicar. Foi só isso. No entanto, ressalto que ele agiu de má-fé comigo. Eu não esperava que depois de tanto tempo em que estivemos juntos ele fosse tomar uma atitude dessas apenas para servir aos interesses de Geddel, com o intuito de me atingir.

TB – Sobre essa ação, existe algum fundamento ou ela pode ser considerada apenas uma perseguição por parte do senador César Borges?
Otto –
Trata-se de perseguição. Mesmo porque tanto na primeira instância, como no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o juiz entendeu que não existia substância jurídica que comprovasse que eu tivesse dupla filiação. Há algo até interessante nisso tudo porque todas as listas do PR encaminhadas por César Borges e assinadas por ele, nenhuma delas constava o meu nome. Portanto, ele sabia que eu não era filiado. Houve apenas o meu pedido de desfiliação que foi encaminhado ao cartório de Ruy Barbosa na época, mas o cartório não deu baixa. Porém, destaco que está registrado no Estatuto do próprio PR, ou seja, na assessoria jurídica do partido está escrito que, quando qualquer membro da legenda for indicado para o Tribunal de Contas, ele está automaticamente desligado. Então só fizeram isso para tirar a minha paz. Agora, não há nada na vida, nem pressão, calúnia e/ou difamação, que tire minha coragem. Não temo pressões, nem perseguições. Morro de vontade de ser apresentado ao medo.

TB – Qual sua análise sobre a candidatura de Paulo Souto? Ele tem condições de chegar ao segundo turno?
Otto –
Eu não gosto de analisar a situação das outras chapas adversárias. Não quero opinar sobre isso.

TB – A campanha de Geddel se robusteceu. Muitos dizem, inclusive, que ela começou a ser gestada dentro do próprio governo. O senhor acredita que ela chega a ser alguma ameaça?
Otto –
Até agora não vejo ameaças. Pelo menos as pesquisas que eu vi mostram que existe uma estagnação. Mas a campanha está começando agora. Portanto, eu não posso opinar. Vale ressaltar que acredito muito é na vitória do governador Wagner no primeiro turno. Estou falando porque conheço o mapa político da Bahia.

TB – O senhor tinha um poder de articulação muito grande no interior do Estado. Após quase seis anos longe da política, será possível recuperar esse capital político?
Otto –
Até pensei que quando eu voltasse à política não teria tantos seguidores, mas me surpreendi. Houve uma grande aceitação, acima daquilo que eu esperava. Como eu falei desde o início, fiz muitos amigos na política. Foram amizades sinceras e verdadeiras, que eu prezei e com humildade continuei dando atenção. Dificilmente esses amigos que fiz no interior me telefonam e eu não os atendo ou retorne a ligação.  Eu sou do interior, de Ruy Barbosa, e tenho um costume enorme de ser acessível às pessoas e são nessas relações que tenho confiado.

TB – Qual será o maior trunfo a ser apresentado pelo governador Jaques Wagner nesta eleição?
Otto –
Ao contrário do que muitos da oposição ao governador falam, o governo tem feito muitas realizações. Antes eu não sabia o que estava sendo executado no Estado. Depois que saí com a comitiva de Wagner – já fomos a mais de 60 municípios – eu vi inaugurações de obras, vi o governador dando ordens de serviço ou obras em andamento. Portanto, existe um acervo de realizações muito grande na Bahia atualmente. Posso citar como um marco do governo atual a construção do Gasene (Gasoduto de Integração Sudeste-Nordeste). Através dele, foi aberto um novo ciclo de desenvolvimento para a região Sul do estado. Aqui na capital teremos o Hospital do Subúrbio, que vai resgatar o atendimento do outro lado da cidade. A Via Expressa, na Rótula do Abacaxi, é outra grande realização. No interior, melhorou o acesso às estradas, principalmente, para as sedes municipais. No setor de recuperação de estradas ele está muito bem, embora se tenha na Bahia 576 mil quilômetros quadrados, coisa que não se faz em apenas três anos e meio. Temos o programa Luz Para Todos, distribuindo pontos de energia para milhares de localidades do Estado, e o programa Água Para Todos. Além disso, tivemos a atração de indústrias, a ampliação da Ford e da Veracel, que também devem ser citadas como grandes avanços do governo Wagner.

TB – A oposição acusou o governo atual de ter tido dificuldades para engrenar e pegar o ritmo de gestão. Como o senhor avalia essa crítica, inclusive, relacionada à segurança pública?
Otto –
É preciso que sejam analisados os três anos e meio. O que ouço por aí é que querem comparar todo o tempo das gestões anteriores com os três anos do Wagner, e isso não é honesto. Vale destacar que o governador tem investido no problema da segurança com o aumento de contingentes, de equipamentos, viaturas. Porém, desde o ano de 2000 vem ocorrendo um aumento do índice da violência no Estado. Faz-se necessário lembrar que pelo menos todos os outros candidatos já tiveram oportunidade de trabalhar e ter responsabilidade com a segurança na Bahia. O próprio Afrísio Vieira Lima, pai de Geddel, foi responsável pela segurança no governo de Nilo Coelho. Essa é uma complexidade do mundo, de todo o Brasil, um problema das grandes metrópoles, que sofrem muito com a violência. Três anos e meio é um tempo curto para resolver. Não venha me dizer que esses meliantes todos foram criados no governo Wagner.

TB – O processo da sucessão presidencial deve influenciar no resultado das eleições estaduais?
Otto –
Totalmente não, mas parcialmente sim, influencia. Em 2002, quando eu fiz a sucessão, nós apoiamos no primeiro turno o candidato a Presidência Ciro Gomes, que ficou em terceiro lugar. No entanto, nós ganhamos aqui no primeiro turno, elegendo o governador e dois senadores. O eleitor vai para a eleição olhando todos os lados, ele tem sabedoria para votar. Este ano temos o governador Wagner que está em primeiro lugar e a candidata a presidente de seu partido, Dilma Rousseff, está empatada com Serra. Com tudo isso o que quero dizer é que o presidenciável José Serra, do PSDB, não deve puxar o candidato democrata aqui na Bahia.

TB – Qual será a participação de Otto Alencar num eventual governo Wagner?
Otto –
Quem vai determinar como será minha participação é o governador. Como vice-governador, claro que serei ouvido em algumas coisas, já estou sendo ouvido agora sobre questões relacionadas ao programa de governo e às ações políticas. Mas primeiro vem a eleição, depois verei como será minha participação.

TB – E como está a saúde? Pronto para a campanha?
Otto –
A minha maior vitória este ano foi a recuperação da minha saúde. Passar pelo que passei e estar em forma, trabalhando, me cuidando, fazendo ginástica, é uma vitória. Passei por momentos difíceis, enfrentei um câncer e um problema cardíaco, mas me recuperei. Estou retornando bem, me sentindo um garoto.

Colaborou: Lílian Machado