Prisão de bandido ligado ao tráfico de drogas expõe a face criminosa no transporte clandestino em Vitória da Conquista

Como num quebra-cabeças, onde as peças se encaixam perfeitamente, aos poucos a face criminosa das milícias, do tráfico de drogas e dos ataques a ônibus urbanos vai se revelando, tendo como pano de fundo a ação desordenada do transporte clandestino em Vitória da Conquista, com mais de mil veículos sem fiscalização.


A peça que faltava se encaixou após a Cipe Sudoeste (Caesg) prender em flagrante, nessa quinta-feira, 23, Valmar Silva de Jesus, responsável pela cobrança semanal aos vanzeiros que realizam o serviço clandestino em linhas que atendem o bairro Vila Eliza.

Livres da fiscalização da Prefeitura, apesar de liminar judicial determinando apreensão desses veículos (LEIA AQUI), os vanzeiros encontraram um “inimigo” perigoso, que pode atacar motoristas e passageiros caso não recebam o pagamento ilegal do “pedágio”.

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De acordo com a polícia, a denúncia foi realizada pelos próprios vanzeiros que atuam no transporte clandestino, conduzindo passageiros entre o centro ao bairro e vice-versa. Segundo os motoristas, eles estariam sendo ameaçados e coagidos por Valmar, a mando de traficantes e milicianos, para que cada motorista pagasse “pedágio” semanal de R$ 50 para rodar livremente no bairro.

No depoimento do preso, a relação criminosa se confirmou. Segundo Valmar, a versão contada pelos vanzeiros é verídica e que a cobrança era realizada em parceria com um elemento apelidado de “Dandan” e a serviço de “Rafa”, principal traficante da área. Valmar foi apresentado na delegacia e autuado em flagrante pelo crime de extorsão.

ANTECEDENTES

Essa não foi a primeira prisão de bandido ligado à milícia que extorque vanzeiros. Em 17 de janeiro deste ano, a Rondesp prendeu um perigoso bandido que, em nome do tráfico de drogas e de milicianos, fazia a cobrança de propinas a vanzeiros para que eles pudessem circular livremente pelas rotas dominadas pelos chefes de facções em Vitória da Conquista. 


De acordo com o registro da prisão, quando os policiais se aproximaram do elemento, ele tentou fugir, carregando consigo uma bolsa. Não teve êxito. Alcançado e rendido pelos rondespianos, “Gilmar” – cuja identidade foi mantida em sigilo pela polícia, entregou a bolsa, que continha diversas cédulas de R$100,00 e R$50,00, totalizando cerca de R$4 mil.

Ao ter o nome consultado no CNJ ( Conselho Nacional de Justiça), a polícia constatou que ele mandado de prisão em aberto. Ele teria dito que o valor era proveniente das cobranças aos vanzeiros. Era revelado, assim, a ponta do “iceberg” por trás do esquema criminoso que alimenta os comércio de transporte clandestino em Conquista e que já havia sido relevado em reportagens do Sudoeste Digital.

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Ainda segundo a polícia, além de cobrar propina dos vanzeiros, Gilmar também é apontado como um dos suspeitos de ter ateado fogo em um ônibus da Viação Cidade Verde, dia 10 de novembro do ano passado, no conjunto Santa Mônica, próximo à fábrica de calçados Dass.

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BARRIL DE PÓLVORA

Uma fonte ouvida pela reportagem investigativa do Sudoeste Digital, mantida em anonimato por questões de segurança, voltou a se manifestar esta semana após ter feito revelações bombásticas em (RELEMBRE).

Segundo a fonte, se o serviço de inteligência da polícia não entrar logo em ação, identificando os líderes das milícias, novas mortes podem acontecer por causa do transporte clandestino, a exemplo das duas relacionadas à atividade, no Miro Cairo.

A primeira foi do vanzeiro José Aldo Souza Oliveira, assassinado a tiros em 29 de dezembro do ano passado, na Avenida Principal do Miro Cairo e a segunda,vitimou Diego Nascimento Filho, 34 anos, alvejado com três tiros por um indivíduo que estava a bordo de uma moto em frente ao bar, no mesmo bairro, em 2 de março . (RELEMBRE).

“É muita gente envolvida, é muito dinheiro em jogo. Se a Justiça quebrar sigilo, Conquista vai ser notícia nacional. A sujeira envolve gente grande, desde funcionário público a políticos e pessoas ligadas a eles”, garantiu.

As investigações continuam, mas as extorsões prosseguem, com o agravante de retaliações dos milicianos e traficantes pela delação dos vanzeiros.

Desde que a atividade clandestina ganhou corpo, com a falência da Viação Vitória, a cobrança de “pedágio”pelo tráfico se tornou prática comum todos os bairros periféricos de Conquista.

Ano passado, por exemplo, os bandidos atacaram uma van a tiros, após o motorista supostamente rejeitar o pagamento da taxa semanal.

Os bandidos também atearam fogo em quatro ônibus, nos últimos meses – para deixar o caminho livre para as vans protegidas por eles e, recentemente, deflagaram tiros em um ônibus (todos da Viação Cidade verde), no Bairro Miro Miro, dominado pelo tráfico e pela milicia.


Os bandidos também levam terror aos passageiros dos ônibus. Os fatos mais recentes resultaram na prisão do ladrão de Ônibus, Lenilton Vargens Chaves (imagem abaixo), e no ataque, há três meses, de dois homens armados, que renderam passageiros de um ônibus da fabrica Dass na altura do bairro Miro Cairo.

O coletivo havia saído da fabrica de calçados e levava funcionários para casa,quando foi abordado por dois assaltantes armados que entraram no ônibus e anunciaram o roubo. Rapidamente os criminosos recolheram bolsas com documentos, cartões bancários, celulares.

TIROS – Sobre o ataque mais recente, um dos tiros, deflagrados na noite do dia 20 deste mês, atravessou de um lado ao outro do veículo, próximo ao cobrador, no espaço destinado a passageiros.

Os passageiros tinham acabado de desembarcar e o ônibus seguia viagem. Pela altura do tiro, ele poderia ter atingido a cabeça, caso ainda houvesse pessoas no veículo. A ocorrência foi registrada na delegacia de Polícia de Vitória da Conquista e na 78ª Companhia Independente da Polícia Militar