O jogo dos marqueteiros – Muitos políticos nem sabem o que os assessores publicam em suas páginas

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com IG Bahia

A página do candidato pode ser pessoal, mas é tocada a quatro mãos – ou mais, muitas vezes. Numa eleição em que elas são tidas como uma das armas fundamentais para atrair o voto do eleitorado, as redes sociais dos políticos ganham reforço.

Três pessoas estão habilitadas a publicar na página do Facebook (107,5 mil seguidores) e na conta do  Twitter (8,3 mil) que Paulo Skaf (PMDB), que concorre ao governo do Estado de São Paulo, chama de “minhas” redes.

Os funcionários fazem parte de uma equipe de cerca de 15 pessoas da agência Pipoca Digital, do Rio, contratada para tocar as redes sociais do candidato.

“Nós temos uma assessoria, temos um planejamento e obviamente ele (Skaf)  participa da aprovação ou das ideias daquilo que a gente posta na rede”, diz klerio Silveira, da equipe da Pipoca Digital . “Nada é feito sem que ele dê o ok do que a gente posta ou deixa de passar.”

Foi assim com a ideia de ironizar um eventual apoio ao PT com a frase “sabe de nada inocente”, publicada na última segunda-feira (28) no Facebook do pemedebista. A publicação gerou mal-estar, uma vez que os dois partidos são aliados na campanha presidencial.

A terceirização não torna a página pessoal de Skaf menos pessoal, afirma Silveira.

“Skaf quer ter um envolvimento pessoal naquilo que sai ali, ele quer ver a personalidade impressa em cada uma daquelas peças. E aí é sempre [publicado] na primeira pessoa”, diz. “A gente posta uma realidade daquilo que é a vida dele mesmo.”

Silveira argumenta que a ideia de página pessoal administrado só pelo próprio candidato está perdendo espaço – afinal, a internet funciona como uma plataforma de propaganda massiva antes do início das campanhas na TV, em 13 de agosto.

“Isso está mudando, as pessoas que tem entendimento do que é rede social estão contratando empresas”, afirma o marqueteiro, cuja empresa administra seis campanhas de grande porte e dezenas menores pelo País.

A assessoria de Geraldo Alckmin (PSDB) – 341,5 mil seguidores no Facebook e 180 mil no Twitter – principal adversário de Skaf, afirma que o tucano é o único responsável por seus perfis pessoais nas redes sociais  – tanto que as publicações quase sempre ocorrem fora do horário comercial, quando há menos pessoas nessas redes.

O comitê da campanha informa que ainda não discutiu se criará um perfil do Alckmin para a corrida eleitoral.

A campanha de Alexandre Padilha (PT) – 13 mil seguidores no Facebook e 107 mil no Twitter – foi a única das três maiores a não responder ao pedido de entrevista da reportagem.

Quem prefere evitar a terceirização de suas páginas pessoais recorre a uma mãozinha caseira. Pioneiro nas redes sociais, o candidato a senador Cesar Maia (DEM-RJ) – 28,2 mil no Facebook e 29 mil no Twitter – se diz o autor de tudo o que sai em suas contas no Twitter e no Facebook.

Mas quem coloca o conteúdo no ar – e faz, assim, o meio de campo entre o candidato e o eleitor – é um grupo de quatro integrantes de sua equipe pessoal, que na eleição contam com o apoio de mais duas ou três pessoas responsáveis pela estratégia digital da campanha.

“Todas as postagens sou eu que produzo, sem exceção. E são eles que postam, diagramam, escolhem o momento de postar”, diz Maia, ao iG . “Eles estão comigo há 15 anos. Então temos um nível de relacionamento muito grande.”

Também o único responsável pelo conteúdo de suas publicações – de acordo com a assessoria – José Serra (PSDB-SP), candidato a senador com 187,7 mil seguidores no Facebook e 1,09 milhão no Twitter –  abre-se a alguns palpites.

Recentemente, por exemplo, aceitou a recomendação para divulgar que faria uma palestra com transmissão ao vivo e usar a hashtag (palavra-chave) com seu número de campanha. A equipe também o ajuda a escolher fotos que vão para o ar.

“O nosso trabalho não é falar pelo candidato, mas sim amplificar sua mensagem”, afirma o jornalista Fabio Portela, que trabalha na campanha do tucano. Serra e Maia mantém o padrão de publicar somente em primeira pessoa, apesar do auxílio.

“Não funciona porque o [utilizador] do Twitter e do Facebook quer intimidade. Se você se trata na terceira pessoa, você se descola. Não deve fazer isso”, afirma Maia.

Presidenciáveis dependem de assessorias

Os três principais candidatos à Presidência parecem confiar suas imagens nas redes sociais exclusivamente às equipes. Nenhuma delas revela quanto pessoas trabalham na moderação das páginas.

As páginas no Facebook de Eduardo Campos (PSB)  – 1 milhão de seguidores – e Dilma Rousseff (PT) – 841,7 mil – são administradas pelos respectivos partidos e raramente há uma publicação em primeira pessoa. A de Aécio Neves (PSDB) – 1,01 milhão – também, segundo sua equipe. Embora, à diferença dos outros dois, isso não esteja explícito.

No Twittter, existem publicações em primeira pessoa. A última atribuída a Aécio (55 mil seguidores) é um elogio ao deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ), de 29 de julho. Dilma (2,7 milhões) teria tuidado pela última vez em 23 de julho para homenagear o escritor Ariano Suassuna, morto naquela data e Campos (40 mil), nesta quinta-feira (31), para homenagear Abelardo da Hora, artista plástico.