Sob ameaça, Negromonte vira um ministro órfão

Josias de Souza

 

 

Sabe qual é a diferença entre a maternidade e a Esplanada? Na maternidade, muitos pais ficam acabrunhados quando lhes nascem certas dúvidas. Na Esplanada, a paternidade é certificada antes de cada ministro vir à luz.

Veja-se o caso do ministro Mario Negromonte (Cidades). Resulta do cruzamento do interresse do PP com a conveniência do governador baiano Jaques Wagner, do PT.

Gregos e baianos sabem: Negromonte virou ministro de Dilma depois que Wagner concordou em gravar seu nome na certidão de nascimento, ao lado da bancada de deputados federais do PP.

Pois bem. Acomodado pelo Planalto na fila de demissões esperando para acontecer, Negromonte tornou-se um ministro atípico. O PP já não se reconhecia nele desde o ano passado. Agora, Wagner também sai de fininho.

“Quando o ministro Negromonte foi para o ministério deixei muito claro que essa era uma indicação do PP.” Hã?!? “Foi elogiada por mim porque cada baiano que ocupe um papel é importante.” Humm…

De passagem por Salvador, Dilma Rousseff foi ciceroneada neste domingo pelo governador. Visitante e anfitrião conversariam sobre as (más) intenções de Dilma em relação a Negromonte.

Os repórteres, seres dotados de curiosidade congênita, quiseram saber se Wagner intercederia por Negromonte junto à presidente. E o governador: “Essa caneta não me pertence.”

Embora presidente da República, tecnicamente, não seja cargo de ministério, até Dilma tem a paternidade política muito bem definida. Ela é da cota conjunta do Lula e do Sarney. Em toda Brasília, só Negromonte é órfão.