ACADEMIA DO PAPO


Paulo Pires paulo-pires

Praça Sá Barreto

Quando Castro Alves, um dos nossos gloriosos poetas versejou: “A praça é do povo como o céu é do condor”, não fez dessa dicção apenas uma construção lírica. O romântico poeta, reconhecido defensor da Liberdade proferiu os famosos versos em Espumas Flutuantes [O Poder ao Povo] e o fez movido por elevado espírito de sabedoria. Os poetas são seres sensitivos, portanto, possuidores de profunda percepção em relação ao que se passa no âmago dos acontecimentos. Não importa se o fenômeno é social ou pessoal. Um dos exemplos representativos dessa afirmação é Leon Tolstoi. A obra do russo é uma vastidão de abordagens  no que há de mais profundo em seus mergulhos sapienciais. É impressionante como ele conseguiu passar de um drama pessoal (Ana Karenina) para chegar a um universal (Guerra e Paz) sem perder a genialidade.

E nós? E o poeta brasileiro? Não tenho dúvida em afirmar [embora isso seja muito pretensioso]: Se o autor de Navio Negreiro fosse vivo e morasse hoje em Vitória da Conquista lançaria um manifesto contrário a construção do Centro Cultural Banco do Nordeste na Praça Sá Barreto, onde parece que, indiferentemente a inúmeros e suplicantes apelos, o valioso equipamento vai ser edificado.

Não podemos deixar de enaltecer a importância do BNB.  Ano que vem [mês de julho] a Instituição completará 60 anos de fomento a todas as áreas do desenvolvimento no Nordeste brasileiro. A quantidade de pessoas físicas e jurídicas que foram e são beneficiadas com os “produtos BNB” é digna das maiores e melhores menções honrosas. Todos os centros de pesquisa apontam a Instituição como a maior Agência de Desenvolvimento Regional de toda a América Latina. E é mesmo! Pensar o desenvolvimento de nossa região sem o BNB é impossível.

Vitória da Conquista tem uma gratidão enorme com esse Banco. Alguns dos seus gerentes protagonizaram grandes momentos de nossa História. Ninguém há de esquecer homens como Valeriano, Jonas Sala e outros que gerenciaram a Agência local  e  se transformaram em personagens importantes na vida da Cidade e Região. O senhor Camilo Calazans um dos seus presidentes [e talvez o mais destacado] à frente do BNB dedicou à Conquista um olhar todo especial. Dezenas de projetos idealizados por doutor Camilo influíram decisivamente nos destinos de nossa Economia.

Recentemente [ano passado] o gerente Jonas Sala divulgou, para nosso gáudio, que Vitória da Conquista foi escolhida para receber um Centro Cultural Banco do Nordeste. Nossa euforia bateu no teto. Fomos lá em cima de alegria. Puxa, que bom!

Conquista recebendo um Centro Cultural BNB é quase um sonho. Os artistas, os intelectuais, os boêmios, toda a sociedade vibrou com o projeto. O esboço arquitetônico foi recepcionado sem ressalvas. Todo mundo adorando, amando a idéia.

De repente, mais que de repente, aconteceu o inesperado: O local da construção. Sim, onde seria construído o Centro? Alguns, apressadamente, diziam: “Vai ser no local onde seria construído o Memorial Glauber Rocha”. Outros menos confiantes retrucavam que seria próximo ao CEMAE. Enfim, havia todo tipo de especulação sobre o local para se construir o desejado Centro.

Eis que de repente, um comunicado oficial do Banco informa “O Centro será construído na Praça Sá Barreto”. Caramba! Espantamo-nos todos! A surpresa aumentou quando disseram com detalhes o local exato. Aí o caldo entornou. Em frente ao Colégio Diocesano? Cobrindo o pátio do ex-Colégio Padre Palmeira, hoje nosso Museu Municipal? Na cabeceira de um viaduto? O que está acontecendo? Uma cidade com 3.743 quilômetros quadrados de área… Será que não há um local mais adequado?  Meu Deus! Por que naquela Praça? Será que vai ser mesmo ali? Senhor ilumine as pessoas…