Analogias e tributos à Miguel Côrtes – Em memória.

Morrer sempre (?) Em Sartre percebe-se a defesa intransigente da liberdade. Para ele, não há algo como uma natureza mortal necessária ao conceito de homem ou uma ordem cósmica que impõe a exigência absoluta e metafísica de que todo homem morra. A frasetodo ‘homem é mortal’ teria o mesmo sentido de todo homem é natal, isto é, a morte não será necessária para o indivíduo assim como não foi necessário que ele nascesse. O nascimento é um fato idêntico ao da morte. Ou seria o vice-versa? São ambos fatos ocasionais? — podem ou não acontecer — e quando acontecem fazem, respectivamente, aparecer e desaparecer o indivíduo do palco do mundo, da própria vida? Será que a morte de alguém é algo que não tem qualquer significado para a sua própria vida — nem é sequer um fato da vida? — ela simplesmente acontece e tira-o do mundo. A existência humana ocorre em meio aos nadas (ou ao único nada?) cujos limites são o nascimento e a morte. O principal aspecto doexistenz é o fato de estar condenado a ser livre, ele é o ser que se cria a partir de nenhum fundamento, nenhuma certeza, nenhuma verdade a não ser a de que ele é absolutamente livre. Seria então a morte uma tragédia e uma solidão radical? Especialmente nos dias atuais em que o tema parece estar banalizado…? Miguelão: Seu ciclo se encerrou? Uma grande obra.

Joilson Bergher

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Em Memória: Miguel Côrtes

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A DB no estúdio do Som da Tribo, com Miguel Côrtes
Para quem não mora em Vitória da Conquista-BA ou cidades próximas deve se perguntar: quem é esse tal Miguel Côrtes? Provavelmente seu nome está nos agradecimentos de todos os CDs de bandas independentes da região sudoeste baiana. É, provavelmente a figura mais conhecida e ilustre do cenário, principalmente por ser “das antigas” do rock conquistense e um radialista que sempre falava coisas que os outros colegas não tinham coragem de dizer no ar. Foi o principal idealizador, produtor e apresentador do programa O Som da Tribo, a grande voz alternativa e independente da terceira maior cidade da Bahia e, por incrível que pareça, uma das mais frias do nordeste.
 No programa, tinham espaço garantido todas as bandas, desde que do cenário alternativo aos queridinhos axé-forró-sertanejo-e-similares. “Porcarias”, dizia em bom tom todos os sábados, das 19 às 21h. Durante um bom tempo trabalhou numa das poucas lojas de CDs da cidade. Era o vendedor mais visitado e requisitado. Levou uma vida simples e via no rádio a profissão mais divertida de todas. O Som da Tribo também era independente, com horário comprado com dinheiro de patrocinadores que também acreditam que é possível trazer boa música ao rádio. E assim se passaram mais de 15 anos de programa. A partir de 2009 surgiu a idéia de levar o programa à internet. foi criado o blog do Som da Tribo. Tratou logo de escolher algumas figuras para ajudá-lo a acrescentar conteúdo(incluindo este que escreve). Hoje o blog é o principal divulgador da cultura independente local. O programa de rádio é disponibilizado para download e, neste exato momento, as músicas de seu acervo pessoal estão tocando noSomdaTribo.com. Muitos se acostumaram à sua voz no rádio, nas ruas ou apresentando shows. Adorava músicas dos anos 80 e, volta e meia, quando alguém ligava na 96 FM e ficava surpreso por ouvir várias músicas boas num longo período de tempo, logo percebia que o DJ era Miguel. Sempre tinha alguma história sobre o rádio conquistense para contar. recentemente se emocionou ao anunciar a morte de um colega, Gilmar Cardoso, também figura carimbada no meio radialístico local. Agora fica aquele vazio e a pergunta: quem poderia fazer o mesmo por ele? Como tocar adiante O Som da Tribo, que sempre dizia ser feito por todos, sem ele? Ao mesmo tempo em que se pensa que não há uma pessoa ideal para prosseguir seu projeto, a qual se sabe que era, talvez, seu único filho, algo que realmente gostava e guardava grande espaço em sua vida. O último programa está, como sempre, disponível no site, para baixar e ouvir. Provavelmente será o mais baixado de todos. É uma lembrança perfeita do criador e criatura juntos, tal como sempre foram. Seu ciclo se encerrou e todos sabem muito bem qual foi sua grande obra. Qualquer um teria desistido de seguir em frente com o programa e tudo o mais que vinha no pacote. Mas seguiu até o fim, fazendo o que mais gostava. Ironicamente, o sujeito mais famoso do rock conquistense não cantava nem tocava nenhum instrumento. Se pode servir de algum consolo, Miguel foi uma das poucas pessoas que conseguiram terminar a vida fazendo o que mais gostavam e o melhor, sendo reconhecidas por isso. E assim termina sua jornada, no mês do rock, aos 45 anos, cercado de amigos e admiradores. “Se eu pudesse escolher, morreria dormindo”, nos disse certa vez. Sua última grande realização. Lá se vai um verdadeiro vencedor.


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