Incêndio comprometeu 40% do programa antártico brasileiro, diz pesquisador

 

 

 

O incêndio que destruiu sábado (25) a Estação Antártica Comandante Ferraz e matou dois militares, na Ilha Rei George, comprometeu 40% do programa antártico brasileiro. A avaliação é do diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jefferson Simões, que já esteve 19 vezes no continente gelado, das quais cinco em Comandante Ferraz.

Incêndio na base brasileira na Antártida

Foto 10 de 11 – Integrantes da base brasileira na Antártida chegam à cidade chilena de Punta Arenas após incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz. Dois militares morreram no incêndio Mais Reuters

“Foram afetadas principalmente as áreas de biociência, algumas pesquisas sobre química atmosférica, de monitoramento ambiental, principalmente sobre o impacto da atividade humana naquela região do planeta. Infelizmente, isso também representou uma perda enorme em termos de equipamentos. Ainda não podemos estimar, mas ultrapassa a casa da dezena de milhões de dólares”, lamenta o pesquisador.

Segundo Simões, no entanto, o programa antártico continuará funcionando porque a Comandante Ferraz, apesar de concentrar uma parte importante das pesquisas brasileiras, não era a única estação científica brasileira. Ele explica que, pelo menos metade dos pesquisadores, trabalha em navios de pesquisa ou em acampamentos isolados na Antártida.

Além disso, Simões conta que, em janeiro deste ano, foi inaugurado um módulo de pesquisa no próprio continente antártico, chamado de Criosfera 1, localizado a 2.500 quilômetros ao sul de Comandante Ferraz, que está concentrando importantes pesquisas brasileiras. Segundo a Academia Brasileira de Ciências, essa é a estação de pesquisas latinoamericana mais próxima do Pólo Sul.

“É um módulo totalmente automatizado, que coleta dados meteorológicas, de química atmosférica, inclusive dióxido de carbono, e outros estudos. Essa expedição [de instalação do módulo] foi liderada por mim, com pesquisadores de sete instituições nacionais, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro”, disse.

De acordo com o pesquisador, a reconstrução da Estação Comandante Ferraz demorará, pelo menos, dois anos, em consequencia das condições geográficas da Ilha Rei George. “O processo de reconstrução, para voltar ao nível em que estava, demorará de dois a três anos. A logística é muito difícil e só podemos construir durante o verão antártico. E o inverno já está chegando”, disse.

Incêndio

O incêndio na Estação Comandante Ferraz aconteceu na madrugada deste sábado (25). Segundo a Marinha do Brasil, um incêndio na “praça de máquinas”, local onde ficam os geradores de energia da base, causou uma explosão. O fogo destruiu toda a estação, de 2.600 metros quadrados. Dois militares brasileiros que haviam desaparecido durante o incêndio morreram. O suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e sargento Roberto Lopes dos Santos, ambos da Marinha. Eles participavam do grupo de apoio que tentava apagar o incêndio originado na casa de máquinas da base.

“Num ato de heroísmo, eles estiveram justamente no local de maior risco, na tentativa de debelar o incêndio e não conseguiram”, disse o ministro da Defesa, Celso Amorim.

Devido às condições meteorológicas adversas na região, o chefe da Estação e os integrantes do Grupo-Base, que permaneceram na base combatendo o incêndio, foram transferidos para a base chilena Eduardo Frei.

Ajuda chilena

A presidente Dilma Rousseff recebeu neste domingo (26) o apoio do governo chileno para a reconstrução do centro de pesquisas da Marinha na Antártida que foi destruída ontem por um incêndio que matou dois militares e feriu outro.

Segundo comunicado oficial emitido em Santiago, o presidente do Chile, Sebastian Piñera, ligou para Dilma e prestou sua “solidariedade” pelo acidente ocorrido na estação antártica Comandante Ferraz. Além disso, o governante ofereceu ajuda de seu país nos trabalhos de reconstrução do complexo localizado na ilha do Rei George.

A estação antártica brasileira começou suas operações em 1984, e no momento do incêndio abrigava 59 pessoas, entre militares, cientistas e civis. A maior parte deles foi levada para uma base chilena e à cidade de Punta Arenas.

Segundo o governo chileno, Dilma agradeceu a Piñera e se comprometeu a fazer uma visita ao Chile em breve. (Com Agência Brasil)